- O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente que os demais, creio.
- O que trás tal movimento de tão relevante, para representá-lo?
- Afirma que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência.
- A qual ser te referes?
- A um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, este ser é o homem, a realidade humana.
- O que significa, aqui, dizer que a existência precede a essência?
- Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo, só posteriormente se define.
- O homem é aquilo que ele faz de si mesmo?
- O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada
- O que vem à se tornar?
- Só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo.
- Essa seria a propalada natureza humana?
- Bobagem filho, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la.
- Logo, o homem é uma incógnita de si mesmo, é isso?
- O homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para a existência.
- Logo, a essência do homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo?
- É esse o primeiro princípio verdadeiro do existencialismo.
- Ao existir, define seus modelos de crença, em essência?
- Desta forma, o homem acredita que crê, ele se toma como ser-crença, quando na verdade ele é consciência da crença.
- Um Homo dogmaticus conscientizado?
- Portanto, o nada é essa distância estabelecida pela consciência e que aniquila o ser em seu próprio cerne.
- Se torna um autoengano ao definir seus sistemas de crenças?
- O homem é habitado por uma falácia: o desejo de ser, que é o desejo de fundamentar-se a partir do outro que não ele mesmo.
- Por fim, torna-se um vácuo existencial?
- Assim, o Humanismo existencialista, exige que o homem seja o fundamento sem fundamento de todos os valores, que ele se invente a partir do nada que ele é, ao invés de se autodeterminar por algo que lhe é exterior, seja a família, o Estado, o partido político, a religião, os valores, ou qualquer tipo de determinismo social, biológico ou psicológico.
Verdade seja dita.
* Gentil Eduardo é servidor público, Professor licenciado em Educação Física (UEPA); Licenciando em Filosofia (UNIASELVI); Pós graduação em Metodologia de Ensino de Filosofia e Sociologia (UNIASELVI); Liderança e Gestão de Equipes (FAERMAT); Psicologia do Esporte, e outros.
Esse é um conto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade, será apenas coisa de sua cabeça.
Na Côrte do Povo, havia uma cortesã que representava o povo de Brogodó com uma genialidade jamais vista. Seu nome era Elizabete III - a Grã Marquesa. Mesmo Elizabete fazendo todo tipo de tramoia e praticando todo tipo de "sem-vergonhices", era vista por seus eleitores e simpatizantes como uma santa. Com uma voz nasal, um inglês sofrível que não conseguia pronunciar dez palavras sem atropelar o verbo e a concordância, mesmo assim, conseguia arrancar aplausos da plateia dos fiéis seguidores. Também não vamos negar. Apesar da Grã Marquesa não ser nada inteligente, tinha uma habilidade especial para seduzir, manipular e encantar sua plateia. Geralmente começava seu discurso com as palavras: "Eu como mulher, como mãe, como esposa, como cristã, como evangélica temente a Deus..." Assim, usando uma capa religiosa que agradava muita gente, Elizabete III ia enganando a quase todos. Chegou a ser chamada de Santa por muitos.
Mas, veja cara leitora e caro leitor. Nem mesmo as santas escapam das "maldades" desse povo "mal" que não respeita nem as "autoridades". Pois bem. Naquela sexta-feira, mais uma vez a cidade de Brogodó foi visitada pela S.W.A.T. Esse órgão responsável por combater a corrupção na Pensilvânia, chegou na rica cidade dos vampiros de surpresa e foi direto para a Secretaria de Educação e para a casa do secretário José Bial. Segundo denúncias, esse órgão operava um pesado esquema de corrupção responsável pelo desvio de milhões de dólares. Também havia suspeita de rachadinha, uso político da estrutura, funcionários fantasmas e até alunos fantasmas para justificar o aumento de carga horária de alguns professores.
O pobre secretário José Bial ficou atônito quando recebeu os homens de preto da S.W.A.T às 6 horas da manhã. Apesar de ser o secretário de educação, o pobre coitado, homem simplório, não tinha a menor ideia da gravidade da situação. Afinal, quem mandava na sua secretaria era sua madrinha, a Elizabete III. Ela mesma. A santa, a Grã Marquesa de Brogodó. Como ela tinha cargo na Côrte do Povo, designou uma ajudante de ordens para dar os comandos na secretaria que ela comandava, mesmo a bichinha não tendo capacidade. Mas, vá lá, a menina tinha capacidade para obedecer, e isso já bastava. Nesse sentido, o pobre secretário, estava mais perdido do que cachorro quando cai do caminhão de mudança. Acompanhava a tudo trêmulo, pálido, mais branco do que uma vela.
O baculejo durou umas duas horas. Quando tudo acabou, o José Bial correu para a casa da sua madrinha Elisabete III. Essa, já sabendo do que tinha acontecido, muito nervosa, nem deixou o pobre rapaz entrar na sua casa. Do interfone, falou que estava orando e que ás 20h o procuraria na casa secreta - local bem escondido onde a Grã Marquesa guardava documentos comprometedores e alguns objetos de valor.
A santa passou todo aquele dia orando e agradecendo a Deus pelo livramento. Temia que a S.W.A.T fosse também em sua casa. Aí seria o fim. Enquanto orava, foi tratando de juntar documentos, aparelhos celulares, dinheiro... Separou tudo em uma caixa e mandou seu motorista levar para sua casa secreta onde morava um fiel escudeiro de sua inteira confiança. "Obrigado meu Deus por não ter deixado esses cães dos infernos virem em minha casa. Esse seria o meu fim" - repetia a santa com os joelhos brancos no chão.
A noite, a santa pediu ao seu esposo que ficasse em casa enquanto iria resolver uns problemas. "Meu amor, fique em casa e não saia por nada. Vou resolver aquela situação e não tenho horas para chegar. Fique de olho nas câmeras e preste atenção nas pessoas que passam em frente. Não abra o portão para ninguém" - ordenou a santa. Já no seu carro, ligou para seu namorado e combinou de encontrarem na saída da casa secreta às 21 horas. Namorado? Sim, o que você tem com isso? A santa merece ser feliz!
Às 20h, como combinado com seu pupilo José Bial, chegou à casa secreta e iniciou logo a conversa. "Meu amigo, não se preocupe. Esses cães só querem dinheiro e se for preciso, nós daremos. Não diga nada a ninguém, não fale com jornalistas, não escreva nem uma notinha. Fique calmo que eu vou resolver tudo" - ordenou a Grã Marquesa com segurança e frieza. José Bial chorou, lamentou mas, no final confiou em sua santa. Recebeu um abraço de consolo e foi pra sua casa descansar. Afinal, aquele tinha sido um dia de cão. Agora se sentia mais aliviado e seguro com as palavras da santa. Apesar do numero de documentos levados de sua casa e do seu gabinete, a santa havia garantido que o que tinha de comprometedor estava bem guardado numa caixa em lugar seguro naquela casa onde estavam.
Como combinado, a Grã Marquesa saiu às 21h do seu esconderijo e a dois quarteirões, num ponto sem iluminação, parou seu carro para seu namorado entrar. Foram para outra casa secreta para relaxar, amar e tomar whisky. Antes que você, leitor maldoso me questione o fato da santa tomar whisky, já que é evangélica, vou logo te adiantando: ela merece e pronto. Você não tem nada a ver com isso.
Extasiada, a santa voltou para casa as duas horas da madrugada onde encontrou seu marido sentado numa poltrona em frente ao monitor de 50 polegadas vigiando a rua pelas câmeras. Ordenou que ele fosse dormir no quarto de hóspedes pois estava muito exausta e precisava ficar sozinha. Entrou para seu quarto e dormiu como um anjo. Ou melhor: como uma santa.
Depois disso, o governador chamou as suas lideranças de Parauapebas (Kenyston, Braz, Rafael e Darci) para um café sem açúcar e bateu o martelo em torno do nome de Ivonaldo Bráz, que, segundo ele, tem mais condições e experiência para barrar a sanha da oposição e ganhar as eleições.
O prefeito Darci, não gostou nem um pouco de ser contrariado e resolveu peitar o governador e mostrar a ele quem é que manda nessa joça. Entrou em campo para procurar um partido para seu pupilo Rafael Ribeiro. E não deu outra. Foi ao PT, partido que, mesmo ele tendo se desfiliado em 2016, continua tendo total influência.
A reunião com o diretório petista aconteceu no último sábado, 09 de março. Rafael Ribeiro foi apresentado como candidato a ser apoiado pelo PT. Há inclusive a possibilidade do Rafael se filiar ao PT ou se candidatar pelo PSDB e fazer dobradinha com o PT. Tudo está na mesa de negociação e deve se acertar nos próximos dias.
Quem não gostou nem um pouco dessa negociação foi o professor Raimundo Neto. O mesmo, tinha colocado seu nome a disposição como opção para candidatura do PT. A apresentação foi fruto de um debate entre um grupo importante de filiados que acham que já chegou a hora do PT sair da sombra do Darci e apresentar candidatura própria.
O diretório do PT resolveu ignorar o nome do Raimundo Neto e, sem ao menos dialogar, reuniu quase secretamente e abriu as portas para os planos do Darci. Acontece que Neto não está sozinho. Além de ser um nome histórico no partido, tem um grupo grande que deve lhe acompanhar na sua decisão, e não apoiará a decisão do diretório.
Veja abaixo a carta de desfiliação que o professor Raimundo Neto apresentou ao Partido dos Trabalhadores de Parauapebas:
Há cerca de 40 anos, iniciei minha militância no Partido dos Trabalhadores – PT, ainda muito jovem, nos anos finais da ditadura militar, na década de 80. Na época, morava em Imperatriz.
No início dos anos 90, mudei-me para Parauapebas, onde continuei minha militância no PT, sendo este o único partido ao qual fui filiado, permanecendo até ontem, 12.03.24. Após tanto tempo de engajamento, tudo tem seu fim.
Minha decisão de sair deve-se à profunda incompatibilidade entre meu pensamento e o dos dirigentes locais do PT sobre as próximas eleições. O PT local recusou-se a seguir o calendário interno estabelecido em seus próprios atos normativos.
Por esses motivos, decidi deixar o partido. Continuarei firme com minha ideologia de esquerda, mantendo-me como sempre fui, moderado.
Expresso minha eterna gratidão aos companheiros e companheiras que me acolheram durante esses anos de militância.
Raimundo Oliveira Neto
Brogodó respirava política todos os dias
do ano, mas quando chegava no ano eleitoral, a coisa pegava fogo literalmente. Os
eleitores agiam de forma passional e defendiam com unhas e dentes seus
políticos. Se envolviam com tamanha paixão que, as vezes dava até morte. Velhos
amigos viravam inimigos; familiares brigavam entre si; casais se separavam.
Tudo fazia parte de um jogo envolvente dos vampiros para que aquele povo se
sentisse parte do jogo. No fundo, quase todos eram manipulados e estavam no
mesmo saco defendendo os interesses dos vampiros contra os seus próprios.
A cada eleição, os vampiros promoviam
dantescos espetáculos e transformavam a disputa num picadeiro, usando e
abusando da política pão e circo. O povo se divertia e, muitos aproveitavam
para ganhar um dinheirinho ou até mesmo objetos como: óculos, tijolos, telhas,
sacas de cimento, cesta básica, dentaduras, etc. Muitos desempregados ou
desocupados aguardavam esse momento para conquistar o trabalho dos sonhos que
era balançar bandeira nos cruzamentos e acompanhar os políticos nas passeatas e
comícios. A ordem era aplaudir e gritar palavras de ordem, independente do que
o político falasse. Bastava o sujeito subir no palanque e dizer “boa noite
brogodoenses”, já se ouvia gritos histéricos e palavras desconexas como “lindoooo!”
“Maravilhosooo!” “Te amooo!”.
Uma minoria quase insignificante lutava
bravamente para mudar aquela situação. Esse grupo era composto majoritariamente
por trabalhadores rurais, operários das minas de diamante e alguns intelectuais
como, advogados, administradores, engenheiros, padres, e, muitos, muitos
professores. Pregavam uma Brogodó para todos com justiça, paz e equidade. Denunciavam
a corrupção, as tramoias políticas e os acordos nefastos entre executivo e
legislativo. Faziam muitas reuniões e construíam planos para retirar Brogodó
das garras dos vampiros. No início, falavam quase que exclusivamente para eles
próprios e quase ninguém os levava a sério. Aos poucos, a plateia foi
crescendo, mesmo que por curiosidade. Alguns falavam: “vamos lá ouvir o
que aqueles malucos estão falando”.
Esse grupo de opositores foi crescendo,
crescendo, ocupando vários espaços até que ficou grande. Se antes as pessoas
ouviam com descrédito e desdém, agora já tinha um numero significativo de
pessoas que aderiam às ideias e tomavam consciência de que poderiam se unir e
derrotar os vampiros. Aquela ideia de que a família vampiresca dos Salins era
imbatível, ia perdendo força e, no fundo do túnel começava a aparecer uma luz
verde.
E aconteceu o que muitos duvidavam. O
ano era 1940 do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus. Ano eleitoral
onde os vampiros esperavam confiantes por mais uma eleição “normal” como era de
costume. Um velho vampiro, chefe do clã dos Salins que há muito dominava
Brogodó sucederia sua mulher que já estava há dois mandatos no poder enquanto
seu marido se aventurava por outras bandas. Tudo parecia normal.
Normal, mas nem tanto. Na eleição para
escolha do governador da Pensilvânia que ocorrera há dois anos, os vampiros de
Brogodó tomaram o maior susto. Uma mulher quase desconhecida, candidata ao
governo pela oposição, deu uma surra no candidato dos vampiros e, só não se
elegeu porque sua votação expressiva só se deu em Brogodó. Esse foi um aviso
que fez com que a vampirada reforçasse sua defesa e atacasse ainda mais aquele
grupo de oposição considerado até então inofensivo.
Pois muito bem. Voltemos a eleição de
1940. A campanha começou fria até que foi esquentando. A oposição aos vampiros
foi tomando corpo e, sem dinheiro, sem estrutura, foi se espalhando como rastro
de pólvora. De repente, a cidade inteira foi invadida pela cor lilás que
representava a cor do grupo de oposição batizado de BROGODÓ PARA TODOS.
A cada comício, a cada passeata, cada carreata, era surpreendente ver como
aquele grupo crescia. Foi a campanha mais bonita e apaixonante que Brogodó já
vira até então. Muitos até falavam empolgados que aquela era a campanha mais
bonita de toda a Pensilvânia ou, quiçá do país.
A campanha contra os vampiros de Brogodó
seguia firme e mais empolgante a cada dia. O candidato representante da
oposição foi escolhido pela sua simplicidade, sua simpatia, mas, principalmente
devido ao seu carisma de se comunicar com o povão. Dizem as más línguas que ele
não tinha a menor ideia do que fosse administração nem governo, e, além de tudo
era desorganizado e desleixado até com sua vida pessoal. Mas, seu talento de se
comunicar com o povo dava gosto de ver. Era daqueles que saia de casa de manhã
para comprar pão para o café e voltava a noite sem os pães, mas cheio de histórias
sobre as conversas que tivera com as pessoas na rua. “Eis aí o nosso
candidato ideal. No quesito administração, nós daremos um jeito. Nós montaremos
uma equipe técnica competente e com habilidade para governar. O Vavá será nosso
passaporte para ganhar as eleições dos vampiros. Vamos furar essa bolha”
– dizia empolgado o professor João Paulo, líder da oposição.
Ia tudo muito bem na campanha mais
empolgante e bonita de toda a história. O candidato Vavá, a cada dia empolgava
mais os eleitores. No início, tinha dificuldade para discursar, mas logo pegou
o jeito e, falava por horas para uma multidão cada vez mais entusiasmada. Mas uma
coisa começou a deixar os líderes da oposição com uma pulga atrás da orelha. É
que apesar do grupo não ter dinheiro e ter que fazer vaquinha até para comprar
água, de repente, começou a aparecer uma fartura de material. A multidão que
lotava os comícios, aparecia em peso de camiseta lilás e portando bandeiras.
Quem comprou? Quem pagou? Ninguém sabia. O Vavá dizia que o povo estava comprando
com o próprio dinheiro. Do nada, aparecia um cantor famoso para animar o
showmício. Quem contratou? O diretor do comitê não sabia. No palco, a
coordenação do evento muitas vezes percebia rostos estranhos àquela campanha. “Quem
é esse com cara de barão? Não conheço”. “Quem é esse do chapelão com pinta de
latifundiário? Nunca vi mais gordo”. “E essa madame com jeito esnobe, seria uma
espiã? Não conheço, mas a bicha é bonita! Deixa ela aí. Pelo menos enfeita
nossa campanha”. E o Vavá, sempre muito simpático, muito solícito, ia
agregando a todos. No final da campanha, havia mais gente estranha
acompanhando-o do que seus próprios amigos e companheiros de partido. Mas, o
mistério continuava. Ninguém sabia de onde vinha tanto dinheiro, tanto material
e tantas atrações caras. Mas naquela altura do campeonato, era bom nem
perguntar. Todos estavam empolgados demais para se preocupar com detalhes sem
importância.
Eis que chegou o dia da eleição. Mesmo
com os ataques violentos dos vampiros, o grupo de oposição deu uma lavada e
venceu com folga. Mesmo já completando vinte anos, lembro-me como se fosse hoje a explosão de alegria e o clima
de empolgação e esperança que tomou conta de Brogodó. Era festa pra todo lado.
Até alguns fazendeiros que antes se declaravam inimigos daquele “bando de
baderneiros comunistas” – como costumavam se referir ao grupo do Vavá – doaram
vacas para o churrasco. Empresários empolgados comemoravam e se diziam ser Vavá
desde criancinha. Foi uma vitória para lavar a alma daquele povo sofrido que
resolveu, como num passe de mágica, abrir os olhos e se livrar de uma vez por
todas dos vampiros.
Será?
Segue no episódio III
PARTE I
Devido a grande atividade mineradora nas
montanhas de diamante de Brogodó, a prefeitura tinha uma receita maior do que
muitos Estados americanos. Mas, o que era para ser uma bênção, virou uma
maldição para o povo brogodoense que vivia numa constante contradição. Tanta
riqueza gerada e o povo vivia numa pobreza que dava dó. Eu explico essa
contradição: devido as vultuosas quantidades de dinheiro gerada pela mineração,
Brogodó atraiu vampiros de todos os cantos do país. Esses vampiros, disfarçados
de homens de bem, descobriram um método para se revezar no poder de Brogodó e
assim, sugarem todo o sangue do povo e suas riquezas.
E o povo, de tanto ter o sangue sugado,
estava apático e sem condições de reagir ao sistema implantado pelos vampiros.
Alguns, até tentavam reagir, ameaçavam tomar o poder dos vampiros, mas, no
final, como num encantamento vampirístico, todos agiam como bobalhões,
paspalhões e acabavam contribuindo para que os vampiros permanecessem no poder.
E assim, Brogodó continuava se afundando cada vez mais num círculo vicioso.
A cada eleição, a história se repetia.
Os não vampiros se uniam para expulsar os vampiros do poder. Os líderes não vampiros,
espumando de ódio, prometiam vingança. “Dessa vez, vamos nos unir e botar esses
vampiros ladrões de sangue para correr. Chega de roubalheira” – dizia seu
Raimundo do mercadinho. “Vou votar em um cachorro, mas não voto mais nesse FDP
chifrudo” – ameaçava seu Paulo da farmácia. “Agora chegou a hora do povo dar o
troco. Vou botar pra torar nesses sanguessugas nojentos. Vamos nos unir meu
povo. Não podemos esperar. A nossa hora é agora” – esbravejava com valentia o
pré-candidato Zé Boca de Burro fingindo lacrimejar no olho esquerdo.
Será que esse ano seria diferente?
No fundo, bem lá no fundo, os não
vampiros não tinham bons propósitos para Brogodó. Queriam apenas ocupar o lugar
dos vampiros para continuar sugando o sangue do povo. E o povo? Ah, o povo!
Esse era um capítulo a parte. Quando chegava o período eleitoral, aqueles que
viviam ameaçando fincar uma estaca de madeira santa no peito dos vampiros,
faziam filas nos comitês para oferecer seu trabalho como cabos eleitorais para ajuda-los,
em troca de algum benefício ou até vãs promessas. E assim, tudo se repetia
eleição após eleição.
Já foram registrados casos em Brogodó de
políticos não vampiros que conseguiram furar a bolha e chegar ao poder, mas
foram mordidos pelos vampiros e se aliaram, tornando-se até piores. Mas, esse
será um novo capítulo dessa história.
No dia 5 de fevereiro do corrente, o governador do Pará, Helder Barbalho veio mais uma vez a Parauapebas. Entre outras atividades, entregou para a comunidade a Escola Estadual de Ensino Médio Eduardo Angelim que passou por uma reforma geral.
Dessa vez, o que roubou a cena não foi as rodadas do governador no carimbó. Durante o seu discurso, ele deu um puxão de orelhas nos pretensos candidatos a prefeito de sua base em Parauapebas. Porém, o puxão de orelhas (ou foi uma CR?) mais veemente, foi para o prefeito de Parauapebas Darci José Lermen.
O governador usou um animal bem presente na Amazônia para exemplificar o que estaria acontecendo no cenário político de Parauapebas. Disse textualmente: "catitu fora da manada é comida de onça". Aqui, Helder se dirige diretamente ao prefeito que, na visão do governador não teve a competência de unir sua base. Mas, essa crítica foi também diretamente para os pretensos candidatos Kenyston Braga, Rafael Ribeiro, Bráz e Branco da White, que lançaram suas pré-candidaturas e partiram para uma disputa radical e, usando a estratégia do "fogo amigo", causaram sérios danos na própria base do governo. Temos como exemplo os vídeos vazados do deputado Braz numa situação particular comprometedora. Esse, foi um exemplo do tal "fogo amigo", pois comenta-se nos bastidores do poder que os mesmos saíram da própria base do governo e tinham a clara intenção de expurgar o candidato com mais chance de representar o governo numa disputa pela prefeitura.
Na continuidade do seu discurso, o governador Helder Barbalho, mais uma vez olhando para o prefeito Darci disse: "Eu fico com quem faz. porque lamentavelmente tá na moda, alguns políticos que só ficam em rede social falando bobagem e não dizem o que fazem, não dizem o que realizam. Exercem cargo, mas não tem um prego numa barra de sabão pra mostrar. Portanto, eu acho que a população está cansada de conversa fiada e quer governante que entregue. Governante que sabe o que diz, que sabe fazer e não só papo furado e conversa fiada. Muito menos governante que ao invés de trabalhar fica só em rede social. Quer ficaer em rede social, vira blogueiro, vai ser digital influencer..."
Esse desabafo em público do Helder para Darci demonstra bem o clima de insatisfação do governador com os rumos da política em Parauapebas. Tive informação de que em conversa com um correligionário de Parauapebas, Helder teria dito que achava o cúmulo do absurdo o Darci ter ido participar da Farofa Gkay e ficar fazendo propaganda de botox enquanto o município vive sua maior crise.
Como um político experimentado, Helder sabe do prejuízo que será perder um município importante como Parauapebas para a oposição ao seu governo. Por isso, até entendo o seu rompante e o ato radical de lavar roupa suja em público. Mas acho que o governador exagerou. Esse puxão de orelha tinha que ser em particular, a quatro paredes de forma individual. Publicamente Helder deveria demonstrar que sua base estaria unida e forte para o que der e vier.
Ao usar a alegoria do catitu, o governador também deixa uma metáfora no ar. Sabemos que o catitu é uma espécie de porco que é visto como praga. Por onde passa a manada, deixa um rastro de destruição e grande prejuízo.
Outra observação. Talvez o governador não conheça a capacidade de articulação do prefeito Darci que tem se tornado a cada mandato, um verdadeiro Mandrake. De onde menos se espera, eis que ele tira uma carta matadora da manga. Então, com certeza, o que o Helder nem desconfia é que essa crise é estruturada, é pensada, é planejada e tem método. Enfim, está tudo sob controle.
Aposto que esse último parágrafo te deixou com uma pulga atrás da orelha não foi? Calma! Se eu tiver de bom humor depois da ressaca de carnaval eu te explico.